sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Apenas a 1ª Semana.

Começou, agora terei coisas para publicar em meu blog e principalmente deixar registrado as minhas impressões sobre esta nova jornada, esta tão sonhada caminhada. Foi preciso esperar três anos e meio até conseguir entrar na escola pública e poder exercer minha profissão, ou quem dirá outras pessoas: a loucura de ser professor. Mas isto não me abala não, muito pelo contrário só me fortalece e faz crescer em mim uma vontade de fazer diferente aquilo que quase mais ninguém acredita mais na tal EDUCAÇÃO.

Depois de adentrar na escola pública pude perceber que algumas coisas caminham e outras nem tanto, alguns comportamentos e olhares são os mesmos da época em que eu estudava. Desconfiados e conversas distintas eu ouvia uma vez e outro pelos corredores e na sala dos próprios professores - que agora é minha também. De imediato comecei a pensar em todas as aulas que tive na faculdade - de licenciatura em História - e pude ver que a realidade é bem diferente dos teóricos e dos sonhadores da educação, porém prefiro estar no meio destes últimos do que dos desesperados/as que lá conheci e irei conviver. Pode ser que algum dia as coisas mudem de lugar, e que as ideologias pedagógicas possam efetivamente dar ouvidos e olhares para a realidade que esta posta em nossa frente para que a mudança aconteça efetivamente, e é isto que irei fazer.

Não fui de peito aberto, tão sonhador e nem muito com o pé frio, fui simplesmente eu. Daqui pra frente terei sete turmas para para trabalhar, quatro são do ensino fundamental II (5ªs séries) e três turmas do 1º do ensino médio.

Nas primeiras aulas fiz uma apresentação aos educandos dizendo sobre meu método de trabalho e de comportamento que iremos exercer - dia após dia - em nossas aulas assim como fiz um reconhecimento de todos/as educandos/as que irei trabalhar até o final do ano letivo. Uma coisa que percebi é que cada turma terá seu próprio ritmo, cada uma terá sua dinâmica e sua probabilidade de crescimento e desenvolvimento das questões, discussões e descobertas sobre o que é História - na Educação e principalmente na VIDA. 

Bom, é um pouco disto que queria deixar postado para dar início a mais nova jornada de trabalho que terei. Mais do que estar dentro de uma escola é saber que lá é o local para se ter diálogo, conversa, discussões para uma outra Educação e não apenas uma re-produção de coisas que sabemos que não adiantam passar para os/as educandos/as. O mundo é grande, assim como o conhecimento também o é, porém a aprendizagem é um trabalho de formiguinha onde temos que saber onde ficamos nossa morada, sem esquecer que o que precisamos esta fora de nossas casas, lá conseguimos o básico e o complemento é preciso buscar lá fora, do outro lado da escola.

Tamo ai, sem parar jamais, e pra finalizar deixo aqui um poema de Graciliano Ramos, que sempre me ajudou - desde a época de estudos na Universidade sobre se apresentar de forma não formal e também pouco convencional - e que pude estar trabalhando com os/as educandos/as do 1º e assim encerro a primeira postagem de 2013, pois daqui pra frente vocês terão muito mais informações e situações sobre a minha visão de ser Educador dentro da Escola Pública de São Paulo.

Graciliano Ramos.

Auto-retrato aos 56 anos (*)
Nasceu em 1892, em Quebrangulo, Alagoas.
Casado duas vezes, tem sete filhos.
Altura 1,75.
Sapato n.º 41.
Colarinho n.º 39.
Prefere não andar.
Não gosta de vizinhos.
Detesta rádio, telefone e campainhas.
Tem horror às pessoas que falam alto.
Usa óculos. Meio calvo.
Não tem preferência por nenhuma comida.
Não gosta de frutas nem de doces.
Indiferente à música.
Sua leitura predileta: a Bíblia.
Escreveu "Caetés" com 34 anos de idade.
Não dá preferência a nenhum dos seus livros publicados.
Gosta de beber aguardente.
É ateu. Indiferente à Academia.
Odeia a burguesia. Adora crianças.
Romancistas brasileiros que mais lhe agradam: Manoel Antônio de Almeida, Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz.
Gosta de palavrões escritos e falados.
Deseja a morte do capitalismo.
Escreveu seus livros pela manhã.
Fuma cigarros "Selma" (três maços por dia).
É inspetor de ensino, trabalha no “Correio do Manhã”.
Apesar de o acharem pessimista, discorda de tudo.
Só tem cinco ternos de roupa, estragados.
Refaz seus romances várias vezes.
Esteve preso duas vezes.
É-lhe indiferente estar preso ou solto.
Escreve à mão.
Seus maiores amigos: Capitão Lobo, Cubano, José Lins do Rego e José Olympio.
Tem poucas dívidas.
Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas.
Espera morrer com 57 anos.